Senhor,
venho dar-ta a sorrir,
toda a minha alegria,
a minha imensa alegria,
minha felicidade, meu riso, meu amor.
Senhor,
todos veem a ti para rogar,
para pedir, para chorar, para implorar
de ti consolação, auxílios, bençãos ou perdão.
Eu não, Senhor,
eu venho para dar.
Sobeja-me a ventura,
transborda em minhra vida
sol, fulgor, claridade, e meu sonho
de amor e de beleza foi bem menor
do que na realidade.
Senhor,
eu venho para dar.
Recebe em tuas mãos
habituadas a colher preces,
imprecações, lágrimas e desespero,
um ramo perfumado
de hinos e de rosas,
de cantos e sorrisos,
de hosanas e de graças.
Toma de mim um pouco de ventura
para dares a cada criatura
que da vida não conhece
a glória de ser feliz.
Tenho-a tanto, Deus meu,
que embora a tomes,
fica-me fartamente para dar
e distribuir ainda.
Quero que todos saibam
da minha alegria infinda.
Quero gritar ao mundo
que adoro a vida,
que é boa, forte e apetecida,
e que mesmo que um dia
a minha sorte se transforme de súbito,
e tudo o que é belo, bom e alegre
a morte me arrebate das mãos com crueldade,
eu bendirei a morte na saudade
de um bem que eu tive e que é tão grande,
que há de brilhar eternamente,
mesmo a treva mais densa
e mais profunda.
Senhor,
uma luz fulgurante
os meus olhos inunda.
Toma-me um pouco dessa luz e
derrama-a sobre aquele
que é cego de ventura,
ou mau ou pervertido,
e deixa-me dizer-te com amor:
Obrigado, Senhor, por ter nascido.
Obrigado, Senhor.
(Margarida Lopes de Almeida)